A bacia do rio Madeira cobre uma área de 1.380.000 km² e ocupa uma extensão duas vezes superior a qualquer outra bacia na Amazônia. A complexidade dessa bacia se dá por suas distintas origens: os rios Mamoré e Beni, drenam os Andes bolivianos, e o rio Madre de Dios, que drena os Andes peruanos; o rio Guaporé, cujos formadores se localizam em terras brasileiras e; a parte baixa que percorre as terras rebaixadas da bacia sedimentar, onde se concentram as várzeas do rio Madeira.
O trecho encachoeirado total abrange cerca de 405 km, dos quais 290 em território brasileiro. A jusante das corredeiras, o rio Madeira diminui a velocidade de suas águas e aumenta gradativamente sua largura e o depósito de sedimentos nas planícies inundáveis, tornando-se facilmente navegável.
O pulso de inundação do rio Madeira é regulado pelo degelo andino e índice pluviométrico da região. O período de chuvas inicia-se em outubro, prolongando-se eventualmente até junho, sendo janeiro a março, o período mais chuvoso e conhecido como inverno amazônico. A vazante do rio se inicia em maio e a baixa vazão estende-se até novembro.
Delimitação Geográfica da Área de Estudo
Desde 2008, amostragens periódicas têm sido realizadas para estudar quase todo o eixo brasileiro do sistema Guaporé–Mamoré–Madeira, incluindo vários afluentes e lagos. O recorte geográfico dado a esta publicação foi o eixo formado unicamente por águas brancas, no transecto Mamoré–Madeira, excluindo-se, portanto, o eixo do rio Guaporé e seus afluentes. Em função do importante efeito das corredeiras do rio Madeira sobre a ictiofauna da bacia, sobretudo, da Cachoeira do Teotônio, a cachoeira foi utilizada como referencial geográfico para delimitação e categorização do trecho em áreas.
Para tratar resumidamente da distribuição de cada espécie, o sistema Mamoré–Madeira foi dividido em quatro grandes áreas:
Área 1 — as planícies de inundação do rio Mamoré: Localizadas no rio Mamoré, a montante do trecho de corredeiras. Trata-se de uma porção que permite que extensas áreas de várzea sejam alagadas periodicamente. Os afluentes apresentam grau de preservação mais elevado quando comparado aos trechos a jusante das corredeiras. Os rios amostrados nessa área são: Rio Sotério e o Rio Pacaás Novos.
Área 2 — o trecho de corredeiras do rio Madeira: Localizadas a partir da primeira corredeira Guajará-Mirim, e vai até a Cachoeira do Teotônio. As cachoeiras de Jirau e Teotônio se destacam pelo porte e velocidade das águas. O rio Madeira exibe barrancos de até 15 metros de altura. Os afluentes amostrados foram: Igarapé Araras; Rio Abunã; Rio Mutumparaná; Rio São Lourenço; Igarapé Karipunas; Rio Jaciparaná e o Igarapé Caracol.
Área 3 — planícies alagáveis do médio Madeira: Localizadas na jusante da Cachoeira do Teotônio até o lago Puruzinho, a montante do rio Marmelos. Os afluentes amostrados foram: Igarapé Jatuarana; Igarapé Jatuarana II; Igarapé Belmont; Lago Cuniã; Rio Machado e o Lago Puruzinho.
Área 4 — planícies de inundação do baixo Madeira: Localizadas a partir do trecho do rio Madeira que sofreu migração importante do canal durante o quaternário, cuja planície inundável assemelha-se às várzeas da Amazônia central. Os afluentes amostrados foram: Rio Marmelos; Rio Manicoré; Rio Aripuanã e o Lago Sampaio.
Métodos de Captura
As amostragens da ictiofauna envolveram esforços padronizados ao longo de todo o trecho do Mamoré-Madeira. As coletas utilizaram diversos Apetrechos de coletas, sempre adaptados aos tipos de ambientes disponíveis em cada ponto: i) rede de espera expostas nas margens dos afluentes e lagos; ii) rede de cerco aplicada sobretudo em praias de areia; iii) arrasto bentônico; iv) puçá empregado para amostragens em microhabitats; v) tarrafa para coletas em áreas abertas; vi) espinhel para captura de peixes de grande porte.
Identificação das espécies
Todos os exemplares capturados foram identificados até o menor nível taxonômico possível. Todo o material foi revisado por famílias ou subfamílias.
Estrutura dos capítulos
A classificação taxonômica é baseada no Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America – CLOFFSCA, para famílias e subfamílias. Os capítulos foram escritos por um ou mais especialistas. São providos de uma introdução geral, na qual cada autor ou grupo de autores apresentam um estado da arte do agrupamento taxonômico, abordando quase sempre aspectos da distribuição geográfica, taxonomia, sistemática e ecologia. Na sequência, as espécies, coletadas pelo LIP/UNIR, são listadas com informações detalhadas:
– Nome da espécie e autoridade taxonômica
– Localidade-tipo
– Comprimento máximo
– Distribuição
– Lote disponível
– Apetrecho de coleta
– Comentários e referências
Cada espécie é ilustrada com uma fotografia colorida e figuras anatômicas ilustrativas. Uma chave de identificação dicotômica é apresentada para todas as espécies listadas no capítulo. Adicionalmente, algumas espécies que são conhecidas para o trecho estudado do rio Madeira, e não foram contempladas nesta publicação, ou que foram amostradas unicamente no transecto do rio Guaporé, também foram incorporadas às chaves, de forma a prover maior completude do conteúdo.